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UnB homenageia Immanuel Wallerstein
Sociólogo estadunidense participa de colóquio organizado pelo Instituto de Ciência Política e recebe título de Doutor Honoris Causa
Maiesse Gramacho - Da Secretaria de Comunicação da UnB
A homenagem foi concedida pela contribuição do pesquisador ao pensamento político e econômico internacional – há 35 anos, Wallerstein lançou o livro O sistema mundial moderno e abriu uma nova perspectiva de análise para as ciências sociais. Suas ideias foram fundamentais para o surgimento da Teoria do Sistema-Mundo, que privilegia a avaliação da realidade mundial como um complexo sistema de trocas econômicas.
“Estamos homenageando uma pessoa que deu imensa contribuição para o desenvolvimento das ciências sociais na segunda metade do século XX e que ainda terá desdobramentos no século XXI”, afirmou o professor Antonio José Escobar Brussi, coordenador do III Colóquio sobre Economia Política do Sistema-Mundo, em que Wallerstein foi o convidado de honra. O encontro começou na quarta-feira, 26, e foi concluído na tarde de hoje, com a homenagem.
A solenidade de concessão do título de Doutor Honoris Causa foi conduzida pelo reitor José Geraldo de Sousa Jr., e lotou o Auditório Dois Candangos de professores, alunos e admiradores do professor estadunidense. Falando em português, Wallerstein agradeceu a honraria. O sociólogo disse, ainda, que o Brasil tem grande importância para o sistema mundial. “E possui uma comunidade intelectual e universitária muito positiva, reativa e influente”, elogiou.
Antes de receber a homenagem, Wallerstein falou com exclusividade à UnB Agência e revelou estar “feliz por passar a fazer parte da ‘família’ da Universidade de Brasília”.
Isabela Lyrio/UnB Agência |
Wallerstein: "Crise ainda vai continuar por longo tempo" |
UnB Agência – Que balanço faz do III Colóquio sobre Economia Política do Sistema-Mundo, realizado pelo Instituto de Ciência Política?
Immanuel Wallerstein – O encontro foi muito interessante porque permitiu uma discussão ativa, com comentários pertinentes sobre a importância e as limitações da perspectiva de sistemas-mundo. Por isso, penso que o encontro foi um êxito.
UnB Agência – No contexto mundial de crise econômica, como o senhor observa a atuação brasileira para enfrentar o problema?
Wallerstein – A crise é um tópico enorme, e não teria como responder brevemente. Eu diria que o Brasil, como certos países – China e Índia, por exemplo – vive a crise com menos dificuldades que os Estados Unidos, a Europa Ocidental e, evidentemente, os países mais pobres do mundo. Mas, mesmo assim, a crise é generalizada. E se um país ou outro a vive mais ou menos intensamente, é menos importante que as consequências para o sistema total. Para o sistema total, a crise vai continuar ainda por um longo tempo.
UnB Agência – Por que o senhor diz que países como Brasil e China enfrentam a crise com menos dificuldades que outros?
Wallerstein – Isso é medido por fatores muito simples. O grau de desemprego é o critério mais importante nessa questão, porque o sofrimento, a insatisfação do povo determina a estabilidade dos governos. E quando há uma situação em que os governos têm menos ingressos e mais despesas, a diferença entre essas duas cifras também compromete sua estabilidade. Por isso, eu diria que o Brasil, até o momento, sofre menos que certos países.
UnB Agência – O senhor rejeita a expressão “terceiro mundo”, e prefere uma divisão entre centro, semiperiferia e periferia. Por quê?
Wallerstein – Quanto à expressão “terceiro mundo”, não é que eu seja contra. Mas esse foi um conceito da Guerra Fria para determinar os países que rechaçavam a polarização entre Estados Unidos e a União Soviética e que insistiam na ideia de que poderiam fazer suas próprias políticas. Como hoje não há mais Guerra Fria, não há razão para utilizar essa expressão. Já as noções de “centro” e “periferia” são uma constante no mundo há séculos, por isso me parece muito útil utilizá-las. Ou, ainda, como preferem alguns, “norte” e “sul” – como referência fácil às desigualdades mundiais.
UnB Agência – Seguindo esse raciocínio, como o Brasil estaria classificado?
Wallerstein – Na qualificação “centro”, “semiperiferia” e “periferia”, o Brasil é claramente um poder semiperiférico. Um país ascendente que, do ponto de vista econômico, ainda não está entre os países mais fortes economicamente, mas que é relativamente forte. A política brasileira, que visa fortalecer a posição do Brasil no sistema-mundo e torná-lo o líder de um bloco sul-americano, é clara. A política internacional de Lula é um êxito – ele sofisticou essa política de forma impressionante. No plano interno, entretanto, Lula fez muito menos do que prometeu e, por isso, há uma grande decepção entre seus seguidores.
UnB Agência – O Brasil poderia chegar a ser um país "centro"?
Wallerstein – Se a economia-mundo capitalista sobreviver por mais tempo, um século, por exemplo, talvez. Mas, para mim, a economia-mundo capitalista vive um período de transição, e penso que não vai sobreviver como sistema.
UnB Agência – Sua visita à UnB também serve para que a universidade lhe conceda o título de Doutor Honoris Causa. Como recebe a homenagem?
Wallerstein – Para mim, esse reconhecimento é muito importante e gratificante. Sinto-me feliz por passar a fazer parte da "família" da Universidade de Brasília.
2 comentários:
primeiro, não sabia que ele ainda está vivo,
segundo, não é possível que alguém tão famoso, cuja elaboração teórica orienta consideravelmente algumas grandes políticas externas estrangeiras, não seja estudado com devida importância no curso.
assim vamos criando preconceitos e possíveis futuros erros de atribuição axiológica.
putz, gostaria de ter ido
nem sabia que ele ainda tava vivo [2]
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